O século XX foi marcado por movimentos globais de expansão e produção em massa afim de atender as demandas de uma população que crescia e consumia cada vez mais. Na década de 60 a revolução verde mudou a forma de produzir alimentos, com a criação de sistemas de produção em larga escala, na forma de monocultura.
Esse movimento otimizou a produção, distribuição e oferta de alimentos por todo o planeta. A revolução verde foi, sem dúvida, uma conquista importante na nossa história, mas o progresso veio associado ao uso desacerbado e inconsciente de agrotóxicos.
Agrotóxicos são uma ameaça a nossa saúde e ao equilíbrio dos ecossistemas. Estima-se que mais de 95% dos pesticidas têm o potencial de afetar outros organismos e se dispersar no meio ambiente. Agrotóxicos se acumulam na natureza, podendo chegar a até 70 mil vezes sua concentração inicial. Alguns químicos se acumulam por décadas, nos Estados Unidos o uso do pesticida DDT foi suspendido na década de 70, porém, quantidades significativas ainda são encontradas no meio ambiente nos dias hoje!
Infelizmente, muitas sociedades de saúde e entidades governamentais se abstém do assunto ou não expõem a real dimensão do problema. O fato é que temos informação suficiente para afirmar que essas substâncias representam sérios riscos a nossa saúde.
Naturalmente, temos a solução nos alimentos orgânicos que são produzidos sem o uso de pesticidas, em solos não contaminados, com sistemas sustentáveis que respeitam o equilíbrio da fauna e da flora. Porém, o custo muitas vezes é alto, fazendo o acesso a esses alimentos uma realidade para poucos, mas existem soluções. Nesse texto irei discutir estratégias para evitarmos a exposição a esses químicos.
Quais são os riscos de consumir alimentos com agrotóxicos?
Estudos sugerem que agrotóxicos podem estar associados ao desenvolvimento de diversas doenças como câncer, diabetes e doença de Parkinson. Alguns herbicidas têm relação com câncer de bexiga e tumores cerebrais, pesticidas como o Bisfenol são associados com o câncer de mama. A exposição aos agrotóxicos é um dos principais fatores para o desenvolvimento de leucemia, o risco é consideravelmente maior em crianças que foram expostas durante a gestação.
Trabalhos recentes sugerem aumento do risco de diabetes tipo 2, especialmente a partir do contato com pesticidas da classe dos organoclorados. Quase todos os agrotóxicos parecem ter associação com a doença de Parkinson.
Diversos químicos parecem ter ligação com distúrbios de desenvolvimento, defeitos cognitivos e má formação fetal. Esses riscos são especialmente importantes no contato da mãe durante a gestação e lactação. Pesquisas no Brasil demonstram concentrações alarmantes de pesticidas no leite materno!
Além disso, essas substâncias podem causar distúrbios hormonais, levando a queda da libido, baixa fertilidade e problemas na produção de esperma. O Glifosato, por exemplo, influencia negativamente os níveis de testosterona.
Todos esses problemas são observados mesmo em baixas dosagens, pois a exposição é crônica e o acumulo ocorre ao longo dos anos. Crianças são especialmente susceptíveis por estarem em fase de desenvolvimento.
Como reduzir a exposição aos agrotóxicos?
A recomendação é evitar o consumo de alimentos regulares e preferir sempre os orgânicos. Infelizmente, a questão financeira é um fator limitante, mas existem algumas estratégias.
A Agência de vigilância sanitária (Anvisa) publica todo ano uma lista com os alimentos mais contaminados, na última pesquisa alimentos como o pimentão, morango, pepino, alface e cenoura ficaram entre os com maior teor de agrotóxicos. Evitar o consumo, em especial destes alimentos, pode reduzir significativamente a exposição.
Em geral, os alimentos mais contaminados são frutas e vegetais, trocar pelo menos estes pela versão orgânica já gera um impacto considerável. Prefira também frutas da estação, usa-se muito mais agrotóxicos para produzi-las fora de época.
Profissionais discutem casos onde não é possível adotar uma alimentação orgânica, muitos preferem excluir algumas frutas e vegetais, e suplementar vitaminas e minerais, afinal, os riscos da exposição aos agrotóxicos sobrepõem os benefícios desses alimentos.
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Outra solução é ter uma horta em casa, alguns temperos são fáceis de plantar até mesmo em pequenos espaços. Ter aceso a pequenos produtores e comprar diretamente com eles, é também uma estratégia para reduzir o custo e valorizar a produção local.
Estimular a produção orgânica é fundamental para proteger o meio ambiente e reduzir a contaminação, lembre-se que quando você escolhe comprar um alimento regular, você está financiando uma indústria que pouco se preocupa com a sua saúde e o bem-estar da população. A contaminação com agrotóxicos vai muito além dos alimentos (encontramos esses químicos na água e no solo, por exemplo). A única forma de nos proteger é valorizando a produção orgânica, aumentando a demanda reduzimos o custo, faça sua parte!
Conclusões e Dicas
Podemos concluir que os agrotóxicos representam sérios riscos a nossa saúde, especialmente em crianças. Essas substâncias têm um impacto ambiental imensurável. A solução é evitar os alimentos regulares e criar estratégias para consumir mais orgânicos.
Dicas:
Prefira alimentos orgânicos, especialmente frutas e vegetais;
Não consuma frutas fora da estação;
Não consuma a versão regular de frutas e vegetais considerados pela Anvisa como altamente contaminados;
Busque os pequenos produtores, valorize a produção local;
Tenha uma horta orgânica em casa;
tenha um cuidado especial com gestantes, lactantes e crianças;
Se informe e faça parte da mudança!
Conteúdo por: Cláudio Bender | Nutricionista | CRN: 17268
Referências:
Kim, K. H., Kabir, E., & Jahan, S. A. (2017). Exposure to pesticides and the associated human health effects. Science of the Total Environment, 575, 525-535.
Programa de análise de resíduos de agrotóxicos de alimentos (2018), Anvisa.
Roberts, J. R., & Karr, C. J. (2012). Pesticide exposure in children. Pediatrics, 130(6), e1765-e1788.
Serra, L. S., Mendes, M. R. F., SOARES, M., & Monteiro, I. P. (2016). Revolução Verde: reflexões acerca da questão dos agrotóxicos. Revista Científica do Centro de Estudos em Desenvolvimento Sustentável da UNDB, 1(4).
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