Nos últimos anos, os produtos vegetais análogos à carne têm se popularizado bastante. Uma pesquisa recente (1) estima que dois em cada três brasileiros consomem alguma alternativa vegetal em substituição aos produtos de origem animal pelo menos uma vez por semana.
Uma das principais razões para essa mudança é o fato das pessoas estarem cada vez mais conscientes dos impactos negativos à saúde do consumo excessivo de carne, mas muitos questionam os substitutos vegetais, já que esses se qualificam como ultraprocessados, e é bem definido que devemos preferir alimentos em sua forma natural.
Nesse texto, eu vou apresentar os resultados de um estudo recente que comparou as carnes vegetais com a carne tradicional, respondendo à pergunta: qual é mais saudável?
Vamos falar de ciência?
O estudo (2) que vou discutir nesse texto foi publicado em 2020 no American Journal of Clinical Nutrition, uma das revistas mais respeitadas no meio da nutrição. Eles recrutaram adultos saudáveis, avaliaram a dieta dos participantes e compararam as respostas fisiológicas do consumo de 2 porções diárias de carne bovina ou carne vegetal (nesse estudo, eles usaram os hambúrgueres da marca norte-americana Beyond Meat).
Na tentativa de eliminar variáveis, eles selecionaram indivíduos bem similares, com idade média de 50 anos, de ambos os sexos, peso médio de 72kg e de diversas etnias. Eles fizeram exames laboratoriais antes de iniciar a intervenção, avaliando marcadores como a glicose, insulina, colesterol e triglicérides (todos os participantes apresentaram resultados similares antes da intervenção).
Eles ainda avaliaram a dieta dos participantes, a pressão arterial e o nível de atividade física, selecionando indivíduos que se assemelhavam em todos esses parâmetros.
Como foi o estudo?
Para fazer uma comparação justa, eles escolheram uma carne de alta qualidade fornecida por uma produtora de carnes orgânicas de pasto livre. Os cortes tinham 20% de gordura, que é similar ao teor encontrado em muitas carnes vegetais.
Os participantes foram orientados a excluir produtos de origem animal da dieta e a não consumir outras alternativas vegetais de proteína (como tofu e tempê) durante o pedido do estudo. As porções de carnes (vegetais ou animais) foram fornecidas pelos próprios pesquisadores. Após 4 semanas, eles cruzam os grupos (aqueles que consumiam carne tradicional foram para a vegetal e vice-versa) e acompanharam esses indivíduos por mais 4 semanas, totalizando 8 semanas de intervenção.
Resultados
Todos os participantes tiveram uma adesão ótima aos produtos fornecidos e conseguiram manter o seu consumo com muita facilidade. O que vai de acordo com outras pesquisas que também encontram uma ótima aceitação dos análogos vegetais (3).
Os resultados evidenciaram elevações significativas no TMAO (um marcador inflamatório), somente naqueles que consumiam a carne tradicional. Eles também observaram reduções no colesterol LDL e uma perda significativa de peso somente naqueles que consumiam a carne vegetal. Por fim, eles não observaram nenhuma diferença significativa em nenhum outro marcador (incluindo a pressão arterial).
O que podemos concluir desse estudo?
Essa é uma das únicas pesquisas que comparou carnes vegetais com carnes tradicionais em um ensaio clínico randomizado (que é o padrão ouro para pesquisas científicas), onde claramente os resultados favoreceram as carnes vegetais!
O TMAO (N-óxido de trimetilamina) é um marcador associado com inflamação, disfunções endoteliais, diabete do tipo 2, acúmulo de tecido adiposo e hipertensão arterial sistêmica. Elevações nesse metabólito parecem aumentar o risco cardiovascular por diversos mecanismos (4). O colesterol LDL é fator de causalidade para doenças cardiovasculares (5) e o excesso de peso é, de longe, o principal problema de saúde da atualidade.
Outro ponto que muitos discutem é que os produtos vegetais contêm muito sódio, mas eles não observaram nenhuma diferença significativa na pressão arterial dos participantes! A justificativa dos autores é que as pessoas salgam a carne tradicional, levando a um alto consumo de sódio (mesmo que o alimento não contenha muito sódio naturalmente).
Podemos dizer que os resultados desse estudo levam ao entendimento de que substituir a carne tradicional por carnes vegetais favorece a nossa saúde!
Conteúdo por: Cláudio Bender | Nutricionista | CRN: 17268
Referências:
1.BRASIL, G. (2022). O consumidor brasileiro e o mercado plant-based.
2. Crimarco, A., Springfield, S., Petlura, C., Streaty, T., Cunanan, K., Lee, J., ... & Gardner, C. D. (2020). A randomized crossover trial on the effect of plant-based compared with animal-based meat on trimethylamine-N-oxide and cardiovascular disease risk factors in generally healthy adults: Study With Appetizing Plantfood—Meat Eating Alternative Trial (SWAP-MEAT). The American journal of clinical nutrition, 112(5), 1188-1199.
3. Bianchi, F., Stewart, C., Astbury, N. M., Cook, B., Aveyard, P., & Jebb, S. A. (2022). Replacing meat with alternative plant-based products (RE-MAP): a randomized controlled trial of a multicomponent behavioral intervention to reduce meat consumption. The American Journal of Clinical Nutrition, 115(5), 1357-1366.
4. Thomas, M. S., & Fernandez, M. L. (2021). Trimethylamine N-oxide (TMAO), diet and cardiovascular disease. Current Atherosclerosis Reports, 23, 1-7.
5. Ference, B. A., Ginsberg, H. N., Graham, I., Ray, K. K., Packard, C. J., Bruckert, E., ... & Catapano, A. L. (2017). Low-density lipoproteins cause atherosclerotic cardiovascular disease. 1. Evidence from genetic, epidemiologic, and clinical studies. A consensus statement from the European Atherosclerosis Society Consensus Panel. European heart journal, 38(32), 2459-2472.
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