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Foto do escritorCláudio Bender

Tudo que você precisa saber sobre o glúten

Atualizado: 30 de mai. de 2023


Nos últimos anos, temos visto uma crescente procura por alimentos livres de glúten, já que muitos acreditam ser necessário eliminá-lo da dieta.


De fato, estudos recentes observam que uma parcela considerável da população sofre com sensibilidade ao glúten, condição que, quando não tratada, pode trazer diversos problemas de saúde.


A sensibilidade não celíaca ao glúten é uma doença difícil de identificar, já que não há um exame específico para diagnóstico, e os sintomas se confundem com os de outros problemas intestinais.


Mas, não se preocupe! Nesse texto vou ensinar tudo o que você precisa saber antes de tirar o glúten da sua dieta.


O que é o glúten?


O glúten é uma proteína encontradas naturalmente em alguns grãos (trigo, centeio e cevada). Essa proteína é resistente a ações enzimáticas no trato gastrointestinal, podendo causar irritabilidade e inflamação em indivíduos sensíveis.

Glúten faz mal?


Não! É importante destacar que indivíduos saudáveis não precisam eliminar o glúten da dieta! A exclusão do glúten não traz nenhum benefício, e ainda pode ser deletéria à saúde.


Estudos deixam bem claro que dietas sem glúten não favorecem a perda de peso, nem mesmo o desempenho esportivo. Por outro lado, o consumo regular de glúten parece exercer efeitos positivos nos triglicerídeos plasmáticos, prevenindo doenças cardiovasculares.


Alimentos livres de glúten são muito mais caros e menos nutritivos, são mais processados e contêm mais aditivos químicos. Assim, é fundamental ter certeza se você realmente é sensível antes de excluir o glúten da sua dieta.


Quando o glúten é um problema?


O glúten se torna um problema quando o individuo é sensível ou apresenta respostas autoimunes a essa proteína.


O termo “intolerância ao glúten” se refere a 3 diferentes condições: doença celíaca, alergia ao trigo e sensibilidade não celíaca ao glúten.


Alergia ao trigo: É uma hipersensibilidade induzida pela exposição ao trigo (não ao glúten), desencadeada por imunoglobulinas da classe IgE, que causam inflamação e respostas características de reações alérgicas.


- Sintomas: A alergia ao trigo se manifesta imediatamente após a exposição a produtos que contém trigo. Os sintomas mais comuns são: irritação na pele, vomito, falta de ar e dor abdominal.


Doença celíaca: É uma doença autoimune que ocorre em indivíduos geneticamente predispostos, caracterizada pela presença de anticorpos das classes IgA e IgG no plasma. A doença é confirmada por biópsia duodenal, onde são observadas lesões teciduais e atrofia.

- Sintomas: Os sintomas mais comuns são: diarreia, flatulência, distensão e dor abdominal. Podem ocorrer ainda sintomas secundários como anemia, osteoporose, dermatite, ansiedade e depressão.


Sensibilidade não celíaca ao glúten: É uma condição onde o individuo apresenta complicações relacionadas ao consumo do glúten, mesmo quando a alergia ao trigo e a doença celíaca foram descartadas. Atualmente não há nenhum exame confiável para identificar a sensibilidade não celíaca ao glúten, o diagnóstico é feito através de sinais e sintomas.


- Sintomas: Os sintomas mais comuns são distensão abdominal, desconforto, dor, diarreia e flatulência. Outros sintomas podem ocorrer, como cansaço, dor de cabeça e ansiedade. É comum a presença de sinais de desnutrição, como perda de peso, anemia, baixa ferritina, deficiências de folato, vitamina B12 e vitamina D, mas é valido ressaltar que os sintomas se confundem com os de outras doenças intestinais, o que dificulta o diagnostico da doença.


O que fazer se eu suspeito de sensibilidade ao glúten?


Se você apresenta sintomas como dor abdominal, flatulência e diarreia, é importante buscar um médico e fazer exames para descartar a possibilidade de alergia ao trigo ou doença celíaca. Se o resultado for negativo, e ainda assim você suspeita de sensibilidade ao glúten, a solução é excluí-lo da sua dieta e observar se há melhora nos sintomas.


A recomendação é evitar alimentos que contêm glúten pelo período mínimo de 6 semanas. Após esse prazo, o glúten pode ser reintroduzido gradualmente, tendo atenção para possíveis efeitos adversos.


Melhoras dos sintomas durante o período de exclusão indicam que você provavelmente é sensível ao glúten, o que é confirmado quando ele é reintroduzido na dieta. Ainda assim, é importante dizer que a sua observação pode ser meramente um efeito placebo. Na dúvida, busque um nutricionista para te auxiliar!


O que fazer se tenho sensibilidade ao glúten?

O único tratamento disponível é a exclusão do glúten da dieta. Alguns indivíduos conseguem tolerar pequenas porções de alimentos que contém glúten, outros precisam excluí-lo completamente.


Outros fatos interessantes sobre o glúten

As doenças associadas ao glúten têm baixíssima prevalência na população:


Estima-se que somente 0.5% das pessoas são alérgicas ao trigo e somente 1% têm doença celíaca, já a sensibilidade não celíaca ao glúten é um pouco mais frequente, acometendo cerca de 6% a 13% da população.


Como base nesses dados, fica claro que as chances de você ter qualquer complicação associada ao glúten são muito baixas, então tenha cautela antes de tomar conclusões precipitadas.


O termo sensibilidade não celíaca ao glúten vem sendo questionado:


Estudos vem observando que essa doença não é associada somente ao glúten, mas a uma série de compostos, chamados de "FODMAPs".


FODMAP é a sigla de “Fermentable Oligosaccharides, Disaccharides, Monosaccharides and Polyols”. São carboidratos de cadeia curta e rápida fermentação.


Aqueles que têm sensibilidade não celíaca ao glúten, se beneficiam da exclusão de alimentos que contêm FODMAPs. Por essa razão, pesquisadores argumentam a nomenclatura da doença, que, na verdade, é uma síndrome associada a vários compostos, não só ao glúten.


Mas antes de tirar os FODMAPs da sua dieta, considere que essa exclusão é associada com insuficiência de cálcio e ferro, e uma redução de cerca de 47% na microbiota intestinal, devendo ser conduzida somente sobre orientação profissional.


Conclusões e dicas

O glúten é uma preocupação de muitos, mas a verdade é que poucos realmente precisam evitar o seu consumo. Saber se você é sensível ao glúten não é tarefa fácil, já que os sintomas se confundem com os de outras doenças intestinais, então deixe esse trabalho para um profissional.

Dicas:

  • Se você não tem sintomas intestinais e consome glúten, muito provavelmente você não é sensível;

  • Se você suspeita de sensibilidade ao glúten, procure um médico para excluir a possibilidade de alergia ao trigo ou doença celíaca;

  • Se você já sabe que não é celíaco, nem mesmo alérgico ao trigo, mas ainda suspeita de sensibilidade ao glúten, retire os alimentos que contém glúten da sua dieta pelo período de 6 semanas;

  • Após 6 semanas, reintroduza pequenas porções de alimentos que contém glúten e observe os sintomas;

  • Não persista em uma dieta sem glúten por longos períodos, por conta própria, pois existem riscos consideráveis de deficiências nutricionais;

  • Na dúvida, busque um nutricionista para te auxiliar!



 

Conteúdo por: Cláudio Bender | Nutricionista | CRN: 1726


Referências:


Cabanillas, B. (2020). Gluten-related disorders: Celiac disease, wheat allergy, and nonceliac gluten sensitivity. Critical reviews in food science and nutrition, 60(15), 2606-2621.

Molina‐Infante, J., Santolaria, S., Sanders, D. S., & Fernández‐Bañares, F. (2015). Systematic review: noncoeliac gluten sensitivity. Alimentary pharmacology & therapeutics, 41(9), 807-820.

Roszkowska, A., Pawlicka, M., Mroczek, A., Bałabuszek, K., & Nieradko-Iwanicka, B. (2019). Non-celiac gluten sensitivity: a review. Medicina, 55(6), 222.


Wu, J. H., Neal, B., Trevena, H., Crino, M., Stuart-Smith, W., Faulkner-Hogg, K., ... & Dunford, E. (2015). Are gluten-free foods healthier than non-gluten-free foods? An evaluation of supermarket products in Australia. British Journal of nutrition, 114(3), 448-454.

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