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Foto do escritorCláudio Bender

A carne vermelha aumenta o risco para diabetes!


É bem definido que o consumo excessivo de carne não é uma prática saudável. Devido à contaminação com poluentes ambientais, metais pesados (especialmente o ferro) e o alto teor de gorduras saturadas, a carne vermelha parece aumentar o risco para doenças cardiovasculares e câncer (1,2).


Mas o que pouca gente sabe é que a carne vermelha também parece aumentar o risco para  diabetes, e é isso que vamos discutir nesse texto.



Como a carne pode causar diabetes?


Muitos têm dificuldade em entender como a carne vermelha pode causar diabetes, afinal não os carboidratos que levam ao desenvolvimento dessa doença? 


É aí que muitos se enganam, porque o consumo de carboidratos, por si só, não é associado com um maior risco para diabetes (3,4). O entendimento do público leigo (e infelizmente de alguns profissionais de saúde) é de que essa doença é causada pela manutenção de níveis elevados de glicose no sangue que fatalmente levam à resistência à insulina, mas isso não é, necessariamente, verdade!


O que de fato parece causar diabetes são danos ao pâncreas, órgão que produz insulina, e disfunções nos receptores intramusculares desse hormônio (5). Essas disfunções ocorrem predominante pelo excesso de peso (especialmente o excesso de gordura corporal), mas também pela exposição excessiva a algumas toxinas.


É bem definido, por exemplo, que o consumo de tabaco aumenta o risco para diabetes (6), justamente pela exposição às toxinas encontradas no cigarro, e o mesmo ocorre com a carne vermelha! No caso específico desse alimento, o elemento agressor é o ferro heme (7,8), visto que esse tipo de ferro promove elevações muito agressivas nos níveis plasmáticos do mineral, que quando em excesso se torna extremante tóxico, especialmente ao pâncreas. Nitritos, encontrados em carnes processadas, também parecem provocar mecanismos similares (7).


Além disso, gorduras saturadas de origem animal tendem a se acumular no tecido muscular e adiposo, provocando disfunções nos receptores GLUT-4 que respondem à insulina. Por fim, o consumo de alimentos de origem animal pode promover ganho de peso, que é um dos mecanismos para o desenvolvimento do diabetes (7).


Estudos confirmam que o consumo de carne vermelha aumenta o risco para diabetes


Uma pesquisa recente publicada no American Journal of Clinical Nutrition apresentou os resultados de mais de 216 mil participantes acompanhados por 30 anos, identificando mais de 11 mil casos de diabetes (7). O que eles observaram foi um aumento de 62% no risco para diabetes naqueles que consumiam carne vermelha regularmente! E esses resultados se mantiveram significativos mesmo após ajustados para outros fatores de risco, como o consumo de tabaco, álcool, sedentarismo e o excesso de peso. Eles ainda observaram que a substituição da carne vermelha por castanhas e leguminosas reduziu drasticamente o risco para essa doença.


Outros achados confirmam esses resultados. Um estudo publicado no American Journal of Epidemiology acompanhou mais de 494 mil pessoas por 10 anos e também observou uma associação positiva entre o consumo de carne vermelha e o risco para diabetes (8). 


Estudos prospectivos observam de forma bem consistente que dietas à base de vegetais reduzem o risco para diabetes (9,10), e isso é explicado por diversos mecanismos. É bem estabelecido que dietas vegetarianas promovem perda de peso e de gordura corporal (11,12). O maior consumo de fibras observado em vegetarianos promove uma maior produção de ácidos graxos de cadeia curta, importantes para a funcionalidade e desenvolvimento de células pancreáticas (13). Além disso, alguns fitoquímicos (encontrados somente em alimentos de origem vegetal) ativam uma série de mecanismos de defesa e genes anti-inflamatórios que têm implicações importantes no risco para diabetes (14).


Conclusões e dicas


Diante de tantas evidências e considerando os diversos mecanismos de plausibilidade biológica, tudo indica que o consumo regular de carne vermelha parece, de fato, causar diabetes. Por outro lado, dietas à base de vegetais são associadas, de forma bem consistente, com um menor risco. Temos, assim, uma necessidade urgente de reeducar profissionais de saúde a promover dietas vegetarianas na tentativa de reduzir o risco para essa doença.


Dicas:


  • Evite consumir carne vermelha, especialmente se você tem casos de diabetes na família;

  • Prefira sempre alimentos de origem vegetal;

  • Se você sofre com excesso de peso, considere uma dieta vegetariana;

  • Não limite o consumo de carboidratos por conta própria, isso pode prejudicar a sua saúde;

  • Na dúvida, busque um nutricionista para te ajudar.



 

Conteúdo por: Cláudio Bender | Nutricionista | CRN: 17268


Referências:


1.Al-Shaar, L., Satija, A., Wang, D. D., Rimm, E. B., Smith-Warner, S. A., Stampfer, M. J., ... & Willett, W. C. (2020). Red meat intake and risk of coronary heart disease among US men: prospective cohort study. bmj, 371.


2. Huang, Y., Cao, D., Chen, Z., Chen, B., Li, J., Guo, J., ... & Wei, Q. (2021). Red and processed meat consumption and cancer outcomes: Umbrella review. Food chemistry, 356, 129697.


3. Sievenpiper, J. L. (2020). Low-carbohydrate diets and cardiometabolic health: the importance of carbohydrate quality over quantity. Nutrition Reviews, 78(Supplement_1), 69-77.


4. Hou, W., Han, T., Sun, X., Chen, Y., Xu, J., Wang, Y., ... & Sun, C. (2022). Relationship Between Carbohydrate Intake (Quantity, Quality, and Time Eaten) and Mortality (Total, Cardiovascular, and Diabetes): Assessment of 2003–2014 National Health and Nutrition Examination Survey Participants. Diabetes Care, 45(12), 3024-3031.


5. Kolb, H., & Martin, S. (2017). Environmental/lifestyle factors in the pathogenesis and prevention of type 2 diabetes. BMC medicine, 15(1), 1-11.


6. Zubizarreta, M. L., Mezquita, M. Á. H., García, J. M. M., & Ferrero, M. B. (2017). Tobacco and diabetes: clinical relevance and approach to smoking cessation in diabetic smokers. Endocrinología, Diabetes y Nutrición (English ed.), 64(4), 221-231.


7. Gu, X., Drouin-Chartier, J. P., Sacks, F. M., Hu, F. B., Rosner, B., & Willett, W. C. (2023). Red meat intake and risk of type 2 diabetes in a prospective cohort study of United States females and males. The American Journal of Clinical Nutrition, 118(6), 1153-1163.


8. Talaei, M., Wang, Y. L., Yuan, J. M., Pan, A., & Koh, W. P. (2017). Meat, dietary heme iron, and risk of type 2 diabetes mellitus: the Singapore Chinese Health Study. American journal of epidemiology, 186(7), 824-833.


9. Jannasch, F., Kröger, J., & Schulze, M. B. (2017). Dietary patterns and type 2 diabetes: a systematic literature review and meta-analysis of prospective studies. The Journal of nutrition, 147(6), 1174-1182.


10. Schwingshackl, L., Hoffmann, G., Lampousi, A. M., Knüppel, S., Iqbal, K., Schwedhelm, C., ... & Boeing, H. (2017). Food groups and risk of type 2 diabetes mellitus: a systematic review and meta-analysis of prospective studies. European journal of epidemiology, 32, 363-375.


11. Barnard, N. D., Levin, S. M., & Yokoyama, Y. (2015). A systematic review and meta-analysis of changes in body weight in clinical trials of vegetarian diets. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, 115(6), 954-969.


12. Huang, R. Y., Huang, C. C., Hu, F. B., & Chavarro, J. E. (2016). Vegetarian diets and weight reduction: a meta-analysis of randomized controlled trials. Journal of general internal medicine, 31(1), 109-116.


13. Priyadarshini, M., Wicksteed, B., Schiltz, G. E., Gilchrist, A., & Layden, B. T. (2016). SCFA receptors in pancreatic β cells: novel diabetes targets?. Trends in Endocrinology & Metabolism, 27(9), 653-664.


14. Qin, S., & Hou, D. X. (2016). Multiple regulations of Keap1/Nrf2 system by dietary phytochemicals. Molecular Nutrition & Food Research, 60(8), 1731-1755.

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