Você já ouviu falar em TMAO? O N-óxido de trimetilamina (TMAO), é um composto formado a partir da fermentação microbiana de produtos de origem animal, que parece ter impactos negativos na nossa saúde (1).
O TMAO, é conhecido há muito tempo, mas foi só na última década que estudos começaram a observar os seus potenciais efeitos nocivos. Em 2011, o primeiro estudo foi publicado nesse tema, onde foi observada uma forte associação desse composto com doenças cardiovasculares (2). Hoje, o TMAO é associado com múltiplas condições de saúde, incluindo diabetes (3), doenças cardiovasculares (4), doenças renais (5) e câncer (6).
Esse é um composto fortemente associado com o consumo de alimentos de origem animal, e estudos, de fato, observam reduções bem expressivas naqueles que aderem dietas à base de vegetais (7). Nesse texto, nós vamos discutir os possíveis riscos à sua saúde e como evitar esse composto.
O que é TMAO e por que ele é prejudicial?
O TMAO é um componente dietético que se acumula devido ao consumo de alimentos ricos em colina e carnitina. Esse composto parece atuar como estabilizador de proteínas, prevenindo a sua desnaturação, mas quando em excesso pode acarretar uma série de complicações de saúde (1).
Alimentos de origem animal são ricos em colina e carnitina, percursores da síntese de TMAO, que, por sua vez, parece ter ação pró-inflamatória em diversos tecidos. Processos inflamatórios têm implicações em diversas doenças, justificando porque o TMAO parece aumentar o risco para tantas condições de saúde. Além disso, bactérias que fermentam colina e carnitina parecem causar disbiose intestinal (1).
Estudos recentes, sugerem que o TMAO pode causar disturbios nos níveis plasmáticos de colesterol, inflamação e disfunções endoteliais, justificando o maior risco cardiovascular (4). A ativação de citocinas pró-inflamatórias e impactos na pressão arterial justificam porque o TMAO parece causar doenças renas (5). Como se não bastasse, níveis elevados de TMAO também são associados com estresse oxidativo e danos ao DNA, justificando a sua associação com câncer colorretal (6).
Estudos confirmam os efeitos nocivos do TMAO
Uma revisão recente avaliou 16 estudos conduzidos nos EUA, Europa e Ásia, somando os resultados de mais de 32 mil participantes (8). Eles confirmaram a associação do TMAO com alterações na creatinina (sugerindo impactos na saúde renal), glicemia, hemoglobina glicada e insulina (sugerindo impactos no risco para diabetes) e dislipidemia (sugerindo impactos no risco cardiovascular).
Estudos com randomização mendeliana (um dos melhores tipos de estudo que temos hoje) confirmam que o TMAO, de fato, causa diabetes e doenças renais (9), além de causar elevações na pressão arterial (10).
Como reduzir os níveis de TMAO?
O mesmo estudo que acabei de citar (8), também avaliou os principais alimentos associados com elevações no TMAO. Talvez você fique surpreso, mas os alimentos que mais elevam esse marcador são peixes e frutos-do-mar! E há quem diga que devemos encorajar o consumo de peixe. Clique aqui para saber mais!
Outro alimento fortemente associado com elevações no TMAO é o ovo, devido ao elevado teor de colina (8). O estudo ainda avaliou as fontes vegetais de colina, como soja e seus derivados, que foram associados com reduções nos níveis de TMAO!
Por fim, a carne vermelha ficou entre os alimentos que mais elevam esse marcador, enquanto frutas e vegetais o reduzem. O resultado do estudo demonstra que os alimentos de animal elevam consideravelmente o TMAO, enquanto os alimentos de origem vegetal (mesmo aqueles ricos em colina) reduzem! Isso é justificado pela presença de fibras nos alimentos de origem vegetal, que modulam a fermentação de bactérias percursoras de TMAO.
Como se não bastasse, nós temos inúmeros estudos demonstrando que dietas à base de vegetais reduzem drasticamente os níveis de TMAO, principalmente dietas veganas (7).
Conclusões e dicas
Não há nenhuma dúvida de que elevados níveis de TMAO representam riscos à nossa saúde. Nós temos inúmeras evidências confirmando esse fato, e não são só estudos associativos! Os alimentos que mais elevam esse marcador são peixes, frutos-do-mar, ovos e carne vermelha, enquanto os alimentos de origem vegetal reduzem os seus níveis.
Dicas:
Evite o consumo de alimentos de origem animal, especialmente peixes, frutos-do-mar, ovos e carne vermelha;
Considere excluir esses alimentos da dieta, especialmente se você já tem histórico de doenças crônicas na sua família;
Consuma quantidades abundantes de alimentos de origem vegetal, já que eles reduzem o TMAO;
Considere uma dieta vegana;
Na dúvida, busque um nutricionista para te ajudar!
Conteúdo por: Cláudio Bender | Nutricionista | CRN: 1726
Referências:
1.Gatarek, P., & Kaluzna-Czaplinska, J. (2021). Trimethylamine N-oxide (TMAO) in human health. EXCLI journal, 20, 301.
2.Wang, Z., Klipfell, E., Bennett, B. J., Koeth, R., Levison, B. S., DuGar, B., ... & Hazen, S. L. (2011). Gut flora metabolism of phosphatidylcholine promotes cardiovascular disease. nature, 472(7341), 57-63.
3.Tai, N., Wong, F. S., & Wen, L. (2015). The role of gut microbiota in the development of type 1, type 2 diabetes mellitus and obesity. Reviews in Endocrine and Metabolic Disorders, 16, 55-65.
4.Canyelles, M., Borràs, C., Rotllan, N., Tondo, M., Escolà-Gil, J. C., & Blanco-Vaca, F. (2023). Gut microbiota-derived TMAO: a causal factor promoting atherosclerotic cardiovascular disease?. International journal of molecular sciences, 24(3), 1940.
5.Zixin, Y., Lulu, C., Xiangchang, Z., Qing, F., Binjie, Z., Chunyang, L., ... & Dongsheng, O. (2022). TMAO as a potential biomarker and therapeutic target for chronic kidney disease: A review. Frontiers in Pharmacology, 13, 929262.
6.Jalandra, R., Dalal, N., Yadav, A. K., Verma, D., Sharma, M., Singh, R., ... & Solanki, P. R. (2021). Emerging role of trimethylamine-N-oxide (TMAO) in colorectal cancer. Applied Microbiology and Biotechnology, 1-10.
7.Lombardo, M., Aulisa, G., Marcon, D., & Rizzo, G. (2022). The influence of animal-or plant-based diets on blood and urine trimethylamine-N-oxide (TMAO) levels in humans. Current Nutrition Reports, 11(1), 56-68.
8.Yang, J. J., Shu, X. O., Herrington, D. M., Moore, S. C., Meyer, K. A., Ose, J., ... & Yu, D. (2021). Circulating trimethylamine N-oxide in association with diet and cardiometabolic biomarkers: an international pooled analysis. The American journal of clinical nutrition, 113(5), 1145-1156.
9.Jia, J., Dou, P., Gao, M., Kong, X., Li, C., Liu, Z., & Huang, T. (2019). Assessment of causal direction between gut microbiota–dependent metabolites and cardiometabolic health: A bidirectional Mendelian randomization analysis. Diabetes, 68(9), 1747-1755.
10.Wang, H., Luo, Q., Ding, X., Chen, L., & Zhang, Z. (2022). Trimethylamine N-oxide and its precursors in relation to blood pressure: A mendelian randomization study. Frontiers in cardiovascular medicine, 9, 922441.
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