Muitos acreditam que peixes estão entre os alimentos mais saudáveis que podemos consumir, mas será que isso realmente é verdade?
Quando olhamos para os principais estudos, realmente parece que o consumo regular de peixe é uma prática saudável, afinal esse alimento não parece representar riscos à nossa saúde, e pode até trazer alguns benefícios (1,2). Por outro lado, estudos recentes tem questionado tais resultados, e existem, sim, potenciais riscos!
Nesse texto, iremos discutir as melhores evidências científicas, na tentativa de responder à pergunta: será mesmo que peixes são saudáveis?
Por que peixe é saudável?
O principal argumento para o consumo de peixe é uma potencial redução no risco cardiovascular, devido à presença de ômega 3. O melhor estudo nesse tema, foi uma revisão extensiva, publicada em 2020, que avaliou 86 ensaios clínicos randomizados, somando os resultados de mais de 162 mil participantes! Eles observaram que o consumo regular de peixe não exerce nenhum impacto significativo na taxa de mortalidade, no risco cardiovascular, ou na incidência de eventos cardiovasculares (3).
Outro argumento, é um possível efeito neuroprotetor, já que o ômega 3 compõe estruturalmente os nossos neurônios. Embora alguns estudos observem tal benefício, os resultados são inconscientes, e quando olhamos para ensaios clínicos (que são os melhores estudos que podemos avaliar), fica bem claro que a suplementação com ômega 3 não parece exercer efeitos neuroprotetores (4).
Peixes também são boas fontes de vitamina D, e isso pode ter implicações na saúde óssea. O melhor estudo nesse tema, revisou diversas publicações, somando os resultados de mais de 29 mil participantes (5). Eles concluem que o consumo de peixe pode ter impactos na saúde óssea, mas as evidências não são claras.
Por fim, existe o argumento de que o consumo de peixe pode reduzir o risco para depressão, mas os estudos nesse tema também são inconsistentes, e faltam ensaios clínicos controlados para comprovar tal fenômeno (6).
Assim, podemos dizer que, em geral, o consumo regular de peixe não parece exercer efeitos significativos na nossa saúde, já que os principais estudos observam nenhum benefício, ou resultados inconsistentes. Por outro lado, é muito bem estabelecido que o consumo de frutas e vegetais, reduz o risco cardiovascular (7,8), exerce efeitos neuroprotetores (9), protege a saúde óssea (10) e pode reduzir o risco para depressão (11).
Peixes são contaminados com metais pesados?
Embora peixes sejam, geralmente, vistos como saudáveis, existem, sim, potenciais riscos! Peixes são, frequentemente, contaminados com metais pesados (12,13), especialmente mercúrio. A exposição ao mercúrio, pode aumentar o risco para doenças cardiovasculares, causar distúrbios hormonais e comprometer o sistema imune. O mercúrio também atravessa facilmente a placenta, representando potenciais riscos para um feto em desenvolvimento (12).
Além do mercúrio, também observamos contaminação com outros metais pesados, como arsênio e chumbo (12,13). Esses compostos podem causar câncer, já que ambos são classificados como cancerígenos pela OMS (14).
A contaminação com cádmio também é uma preocupação. Esse metal pode causar uma série de complicações, incluindo hipertensão arterial, disfunções cardiovasculares, doenças neurológicas, perda de tecido ósseo, e câncer. Um estudo conduzido em países da união europeia, observou que cerca de 5% das amostras de peixes excediam o limite máximo para cádmio (15).
Alguns desses metais, são encontrados naturalmente nos oceanos, mas diversas atividades humanas (como a exploração de petróleo e o uso de agrotóxicos) tem contribuído para aumentos expressivos, que impõem risco à saúde de quem consome peixes e frutos-do-mar. De fato, estudos recentes tem observado concentrações preocupantes dos mais diversos metais pesados nos oceanos, e as concentrações só vem aumentado (16,17).
Peixes são contaminados com microplásticos?
Além dos metais pesados, também observamos contaminação com microplásticos em peixes. Resíduos dos mais diversos tipos de plástico são encontrados nos oceanos e isso vai parar no tecido desses animais!
Diversos estudos, observam a presença de microplásticos em peixes, incluindo alguns daqueles comumente consumidos, como atum e sardinha (18,19). Uma revisão recente, discute os potencias risco à saúde devido à contaminação com microplásticos em peixes, onde os autores dão destaque para potenciais impactos negativos no sistema imune, neurotoxicidade e carcinogênese (20).
Mas e quanto ao ômega 3?
Muitos defendem o consumo de peixe devido à presença de ômega 3, mas essa não é a única fonte alimentar desse nutriente! Alimentos como chia e linhaça são naturalmente ricos em ômega 3, e não são contaminados com poluentes ambientais! O mesmo estudo que citei no começo desse texto (3), observou potenciais reduções no risco cardiovascular a partir do consumo de fontes vegetais de ômega 3, mostrando que esses alimentos suprem, tranquilamente, a necessidade diária. Clique aqui para saber mais!
Conclusões e dicas
Apesar do peixe ser comumente visto com um alimento saudável, não é bem isso que os estudos mostram! Em geral, o consumo regular desse alimento não parece conferir nenhum benefício particular, e ainda pode representar riscos devido à contaminação com metais pesados e microplásticos.
É verdade que um consumo moderado de peixe pode fazer parte de uma dieta saudável, mas melhor ainda, é evitar se expor a toxinas e poluentes ambientais, seguindo uma dieta à base de vegetais!
Dicas:
Evite consumir peixes e frutos-do-mar, devido à contaminação com metais pesados e microplásticos;
Se for consumir peixes, prefira aqueles de pequeno porte, pois esses tendem a ser menos contaminados com mercúrio;
Prefira fontes vegetais de ômega 3, como chia e linhaça;
Na dúvida, busque um nutricionista para te ajudar!
Conteúdo por: Cláudio Bender | Nutricionista | CRN: 1726
Referências:
1.Fardet, A., & Boirie, Y. (2014). Associations between food and beverage groups and major diet-related chronic diseases: an exhaustive review of pooled/meta-analyses and systematic reviews. Nutrition reviews, 72(12), 741-762.
2.Boushey, C., Ard, J., Bazzano, L., Heymsfield, S., Mayer-Davis, E., Sabaté, J., ... & Obbagy, J. (2022). Dietary patterns and all-cause mortality: a systematic review.
3.Jaca, A., Durão, S., & Harbron, J. (2020). Omega-3 fatty acids for the primary and secondary prevention of cardiovascular disease.
4.Van Dael, P. (2021). Role of n-3 long-chain polyunsaturated fatty acids in human nutrition and health: Review of recent studies and recommendations. Nutrition research and practice, 15(2), 137.
5.Sadeghi, O., Djafarian, K., Ghorabi, S., Khodadost, M., Nasiri, M., & Shab-Bidar, S. (2019). Dietary intake of fish, n-3 polyunsaturated fatty acids and risk of hip fracture: A systematic review and meta-analysis on observational studies. Critical reviews in food science and nutrition, 59(8), 1320-1333.
6.Yang, Y., Kim, Y., & Je, Y. (2018). Fish consumption and risk of depression: Epidemiological evidence from prospective studies. Asia‐Pacific Psychiatry, 10(4), e12335.
7.Buil-Cosiales, P., Toledo, E., Salas-Salvado, J., Zazpe, I., Farras, M., Basterra-Gortari, F. J., ... & Martinez-Gonzalez, M. A. (2016). Association between dietary fibre intake and fruit, vegetable or whole-grain consumption and the risk of CVD: results from the PREvencion con DIeta MEDiterranea (PREDIMED) trial. British Journal of Nutrition, 116(3), 534-546.
8.Wang, K., Chen, Z., Shen, M., Chen, P., Xiao, Y., Fang, Z., ... & Zhou, S. (2023). Dietary fruits and vegetables and risk of cardiovascular diseases in elderly Chinese. European Journal of Public Health, 33(6), 1088-1094.
9.Zhou, Y., Wang, J., Cao, L., Shi, M., Liu, H., Zhao, Y., & Xia, Y. (2022). Fruit and vegetable consumption and cognitive disorders in older adults: A meta-analysis of observational studies. Frontiers in nutrition, 9, 871061.
10.Wilson-Barnes, S. L., Lanham-New, S. A., & Lambert, H. (2022). Modifiable risk factors for bone health & fragility fractures. Best Practice & Research Clinical Rheumatology, 36(3), 101758.
11.Jain, R., Larsuphrom, P., Degremont, A., Latunde‐Dada, G. O., & Philippou, E. (2022). Association between vegetarian and vegan diets and depression: A systematic review. Nutrition bulletin, 47(1), 27-49.
12.Bosch, A. C., O'Neill, B., Sigge, G. O., Kerwath, S. E., & Hoffman, L. C. (2016). Heavy metals in marine fish meat and consumer health: a review. Journal of the Science of Food and Agriculture, 96(1), 32-48.
13.Jamil Emon, F., Rohani, M. F., Sumaiya, N., Tuj Jannat, M. F., Akter, Y., Shahjahan, M., ... & Goh, K. W. (2023). Bioaccumulation and bioremediation of heavy metals in fishes—A review. Toxics, 11(6), 510.
14.Samet, J. M., Chiu, W. A., Cogliano, V., Jinot, J., Kriebel, D., Lunn, R. M., ... & Wild, C. P. (2020). The IARC monographs: updated procedures for modern and transparent evidence synthesis in cancer hazard identification. JNCI: Journal of the National Cancer Institute, 112(1), 30-37.
15.European Food Safety Authority (EFSA). (2009). Cadmium in food‐scientific opinion of the panel on contaminants in the food chain. EFSA Journal, 7(3), 980.
16.Han, X., Wang, J., Cai, W., Xu, X., & Sun, M. (2021). The pollution status of heavy metals in the surface seawater and sediments of the Tianjin coastal area, North China. International Journal of Environmental Research and Public Health, 18(21), 11243.
17.Zhou, W., Cao, Q., Hong, M., Lei, Y., Wen, D., & Zhang, D. (2022). Spatial distribution and risk assessment of heavy metals in seawater and sediments in Jieshi Bay, Shanwei, China. Frontiers in Marine Science, 9, 1011564.
18.Thiele, C. J., Hudson, M. D., Russell, A. E., Saluveer, M., & Sidaoui-Haddad, G. (2021). Microplastics in fish and fishmeal: an emerging environmental challenge?. Scientific reports, 11(1), 2045.
19.Hussien, N. A., Mohammadein, A., Tantawy, E. M., Khattab, Y., & Al Malki, J. S. (2021). Investigating microplastics and potentially toxic elements contamination in canned Tuna, Salmon, and Sardine fishes from Taif markets, KSA. Open Life Sciences, 16(1), 827-837.
20.Bhuyan, M. S. (2022). Effects of microplastics on fish and in human health. Frontiers in Environmental Science, 10, 827289.
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