Você já ouviu falar que os produtos de origem animal são contaminados com uma série de poluentes ambientais nocivos à sua saúde?
Eu estou falando de metais pesados, microplásticos e pesticidas, que se acumulam no tecido de animais e vão parar na sua comida! Nesse texto eu vou discutir esse assunto, como sempre, com base nas melhores evidências científicas disponíveis.
Metais pesados
Metais pesados, como arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio, são frequentemente encontrados em alimentos como carne (1) e peixe (2,3). Esses metais, são encontrados naturalmente no meio ambiente, mas diversas atividades humanas poluem o solo, nascentes, rios e oceanos, com quantidades bem preocupantes desses compostos.
O mercúrio, por exemplo, é usado na produção de baterias, equipamentos eletrônicos, fungicidas e medicamentos (2). Os dejetos da indústria são quase sempre despejados em rios e acabam chegando aos oceanos, ao ponto de que, hoje, a contaminação com mercúrio é bem comum em peixes e frutos-do-mar (2,3). Estudos observam que as concentrações de mercúrio nos oceanos vem aumentado, e muito (4,5), representando riscos à saúde dos consumidores, já que esse é um metal extremamente tóxico. Clique aqui para saber mais!
Outros metais pesados, como chumbo e arsênio, também são encontrados em peixes (2,3) e na carne vermelha (1). Esses compostos são classificados como cancerígenos pela OMS (6).
Microplásticos
Como o nome sugere, microplásticos são nanopartículas que se acumulam no meio ambiente devido à poluição ambiental com plástico. Esses compostos são encontrados no tecido de animais, e uma das formas mais diretas de exposição é consumindo peixe e carne vermelha (1-3).
É bem esclarecido que os microplásticos podem ser deletérios a nossa saúde. Os ftalatos, por exemplo, são uma classe de microplásticos que atuam como disruptores endócrinos e podem aumentar o risco para câncer (7-9). Clique aqui para saber mais!
Outra classe de microplásticos são os PCBs (Bifenilos Policlorados), uma classe de poluentes persistentes, banidos na década de 80, mas que continuam se acumulando no meio ambiente devido ao seu uso em tintas para construção e selantes químicos (10).
Uma revisão, avaliou a presença de PCBs em mais de 11 mil itens alimentares. Eles observaram que os alimentos mais contaminados são a carne vermelha, peixes, leite e ovos (10). Os PCBs, representam diversos riscos, o mesmo estudo discute potenciais danos neurológicos, distúrbios endócrinos e imunológicos, além de potencial carcinogênese.
Agrotóxicos
Quando falamos de agrotóxicos, muitos pensam em frutas e vegetais, mas também observamos contaminação em produtos de origem animal.
Um estudo publicado em 2021, avaliou a presença de agrotóxicos em 135 amostras de carne vermelha (11). Eles encontram resíduos de agrotóxicos na maioria das amostras avaliadas, onde as concentrações ficaram dentro dos limites de segurança. Apesar disso, os autores concluem que ainda não sabemos os potenciais riscos da exposição aos pesticidas encontrados na carne.
Outro estudo, também avaliou as concentrações de agrotóxicos em amostras de carne bovina (12). Mais uma vez, foi observado uma concentração bem significativa dos mais diversos agrotóxicos. Nesse estudo, os autores concluem que a presença de pesticidas na carne pode representar riscos à saúde humana, principalmente em crianças.
Medicamentos de uso veterinário e hormônios
Um estudo publicado pela Embrapa (13), avaliou a presença de resíduos de medicamentos veterinários na carne bovina. Eles encontraram resíduos de medicamentos como Clorfenvinfos, Fipronil e Cipermetrina. As concentrações observadas, estavam dentro dos valores de segurança, mas os próprios autores discutem potencias riscos à saúde humana.
O mesmo estudo que discuti anteriormente (11), também avaliou a presença de hormônios esteroides da carne. Eles encontraram resíduos acima do limite de segurança para hormônios como testosterona e estrogênio, comumente usados pela indústria da carne.
Concentrações bem elevadas de estrogênios também são observadas no leite de vaca, fato que parece contribuir para o maior risco de câncer associado com o consumo regular desse alimento (14). Clique aqui para saber mais!
Conclusões e dicas
Poluentes ambientais representam sérios riscos a nossa saúde. Estudos apontam que temos contaminações bem preocupantes de metais pesados, microplásticos e agrotóxicos, nos mais diversos produtos de origem animal, principalmente na carne vermelha e no peixe. Como se não bastasse, temos ainda contaminação com medicamentos de uso veterinário e hormônios, que parecem aumentar o risco para câncer e outra doenças crônicas.
Dicas:
Evite consumir produtos de origem animal para reduzir a sua exposição aos poluentes ambientais;
Evite especialmente a carne vermelha e peixes, alimentos que parecem ser fortemente contaminados;
Evite também consumir leite, esse alimento é contaminado com hormônios que podem causar câncer.
Conteúdo por: Cláudio Bender | Nutricionista | CRN: 1726
Referências:
1.Domingo, J. L., & Nadal, M. (2016). Carcinogenicity of consumption of red and processed meat: What about environmental contaminants?. Environmental research, 145, 109-115.
2.Bosch, A. C., O'Neill, B., Sigge, G. O., Kerwath, S. E., & Hoffman, L. C. (2016). Heavy metals in marine fish meat and consumer health: a review. Journal of the Science of Food and Agriculture, 96(1), 32-48.
3.Jamil Emon, F., Rohani, M. F., Sumaiya, N., Tuj Jannat, M. F., Akter, Y., Shahjahan, M., ... & Goh, K. W. (2023). Bioaccumulation and bioremediation of heavy metals in fishes—A review. Toxics, 11(6), 510.
4.Han, X., Wang, J., Cai, W., Xu, X., & Sun, M. (2021). The pollution status of heavy metals in the surface seawater and sediments of the Tianjin coastal area, North China. International Journal of Environmental Research and Public Health, 18(21), 11243.
5.Zhou, W., Cao, Q., Hong, M., Lei, Y., Wen, D., & Zhang, D. (2022). Spatial distribution and risk assessment of heavy metals in seawater and sediments in Jieshi Bay, Shanwei, China. Frontiers in Marine Science, 9, 1011564.
6.Samet, J. M., Chiu, W. A., Cogliano, V., Jinot, J., Kriebel, D., Lunn, R. M., ... & Wild, C. P. (2020). The IARC monographs: updated procedures for modern and transparent evidence synthesis in cancer hazard identification. JNCI: Journal of the National Cancer Institute, 112(1), 30-37.
7.Radke, E. G., Braun, J. M., Meeker, J. D., & Cooper, G. S. (2018). Phthalate exposure and male reproductive outcomes: a systematic review of the human epidemiological evidence. Environment international, 121, 764-793.
8.Chuang, S. C., Chen, H. C., Sun, C. W., Chen, Y. A., Wang, Y. H., Chiang, C. J., ... & Hsiung, C. A. (2020). Phthalate exposure and prostate cancer in a population-based nested case-control study. Environmental Research, 181, 108902.
9.Merida-Ortega, A., Hernández-Alcaraz, C., Hernández-Ramírez, R. U., García-Martínez, A., Trejo-Valdivia, B., Salinas-Rodríguez, A., ... & López-Carrillo, L. (2016). Phthalate exposure, flavonoid consumption and breast cancer risk among Mexican women. Environment international, 96, 167-172.
10.European Food Safety Authority. (2010). Results of the monitoring of non dioxin‐like PCBs in food and feed. EFSA Journal, 8(7), 1701.
11.Al-Amri, I., Kadim, I. T., AlKindi, A., Hamaed, A., Al-Magbali, R., Khalaf, S., ... & Mabood, F. (2021). Determination of residues of pesticides, anabolic steroids, antibiotics, and antibacterial compounds in meat products in Oman by liquid chromatography/mass spectrometry and enzyme-linked immunosorbent assay. Veterinary World, 14(3), 709.
12.Tongo, I., & Ezemonye, L. (2015). Human health risks associated with residual pesticide levels in edible tissues of slaughtered cattle in Benin City, Southern Nigeria. Toxicology reports, 2, 1117-1135.
13.SARTARELLI, N., Brondi, S. H. G., & NOGUEIRA, A. D. A. (2009). Determinação de resíduos de medicamentos veterinários em carne bovina. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO UNICEP, 12., 2009, São Carlos, SP. Anais... São Carlos, SP: UNICEP, 2009..
14.Melnik, B. C., John, S. M., Carrera-Bastos, P., Cordain, L., Leitzmann, C., Weiskirchen, R., & Schmitz, G. (2023). The role of cow’s milk consumption in breast cancer initiation and progression. Current Nutrition Reports, 12(1), 122-140.
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